domingo, 19 de abril de 2015

Consultas


Relacionar-se com os pensamentos

Atenção Plena dos Sons e Pensamentos


atenção plena de sons e pensamentos

Os sons são tão convincentes quanto os pensamentos e igualmente imateriais e interpretáveis. Por esta razão, a Atenção Plena dos Sons e Pensamentos revela como a mente evoca pensamentos que podem facilmente induzir-nos em erro. Assim que toma consciência deste facto, muitos dos seus problemas vão simplesmente desaparecer.
Esta meditação faz parte do programa do MBCT (Mindfulness Based Cognitive Therapy) co-desenvolvido pelo professor Mark Williams, da Universidade de Oxford. A eficácia do programa do MBCT para tratar e prevenir a ansiedade, stress, depressão, infelicidade e exaustão tem sido comprovada por inúmeros ensaios clínicos.
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Por que meditar sobre Sons e pensamentos?
Estamos imersos numa paisagem sonora de enorme profundidade e variedade. Basta parar por um momento para ouvir. O que ouve? No inicio pode perceber um burburinho pulsante geral e abrangente de ruído. Pode ser capaz de escolher sons individuais. Pode reconhecer uma voz amiga, um rádio noutro andar do edifício, uma porta a bater, o ruido de carros a passar, uma sirene ao longe, o zumbido do ar condicionado, um avião. A lista é interminável. Mesmo quando está numa sala silenciosa, pode perceber sons abafados. Pode ser a sua respiração enquanto se move através das suas narinas, ou o ranger do soalho ou um sistema de aquecimento. Mesmo o silêncio contém sons.
 
Esta paisagem sonora constante é semelhante ao seu fluxo de pensamento.
 

A Atenção Plena dos Sons e Pensamentos revela gradualmente as semelhanças entre  o som e o pensamento. Ambos aparecem como que do nada. Ambos podem parecer aleatórios e não temos nenhum controlo sobre o seu surgimento. Ambos são extremamente poderosos e despoletam impulsos, provocando emoções poderosas que podem facilmente arrastar-nos com elas.

Os pensamentos vêm como que do nada. Assim como o ouvido é o órgão que recebe os sons, a mente é o órgão que recebe pensamentos. Assim como é difícil ouvir os sons sem ativar um conceito correspondente na mente, como "carro", "voz" ou "aquecimento central", do mesmo modo  qualquer pensamento activa uma rede de associações. Antes que tenha consciência disso, a mente saltou e vinculou-se a um passado que tinha há muito esquecido ou a um futuro que já foi totalmente idealizado e que encontra pouco sustento na realidade. Pode começar a sentir raiva, tristeza, ansiedade, stress ou amargura - só porque um pensamento desencadeou uma avalanche de associações.

A Atenção Plena de Sons e Pensamentos ajuda-o a perceber que pode relacionar-se com pensamentos perturbadores da mesma maneira que se relaciona com os sons. Os seus pensamentos podem ser comparados a um rádio que foi deixado em segundo plano. Você pode ouvir - ou melhor observar, mas  não precisa de elaborar sobre o que recebe ou agir sobre o que  sente. Não costuma sentir a necessidade de pensar ou comportar-se de uma determinada maneira que uma voz no rádio lhe ordena - então por que deve cegamente assumir que os seus pensamentos retratam uma imagem infalivelmente precisa do mundo? Os seus pensamentos são pensamentos. Eles são seus servos. Não importa quão alto eles gritam, eles não são o seu mestre, dando ordens que devem ser obedecidas. Essa constatação dá-lhe uma imensa liberdade; retira o gatilho e dá-lhe o espaço para tomar decisões mais adequadas - decisões que podem ser feitas com a sua mente quando está em plena consciência.
 
Há dois elementos-chave para a Atenção Plena dos Sons e Pensamentos - Receber e Notar

Receber
"Recebemos" sons à medida que eles vêm e vão. Vemos o corpo como se fosse um microfone vivo que recebe indiscriminadamente sons como vibrações no ar. Sintonizamo-nos com as sensações cruas de cada som com seu próprio volume, tom, padrão e duração. Da mesma forma passamos de receber sons para "receber" pensamentos e todas as emoções a eles associadas - vendo o momento em que eles aparecem, vendo quanto tempo eles permanecem e o momento em que  se dissolvem.

Notar
Notamos as camadas de significado que adicionamos à experiência da escuta. Podemos descobrir que temos o hábito de rotulá-los, perseguindo aqueles de que gostamos ou rejeitando aqueles de que não gostamos. Podemos notar isso mal tomamos consciência de que o estamos a fazer e, em seguida, simplesmente voltar para a Atenção Plena dos Sons. Da mesma forma, percebemos os pensamentos e sentimentos e permanecemos conscientes da forma como eles criam associações e histórias e quão fácil é ser sugado para dentro deste cenário.

Atenção Plena dos Sons e Pensamentos
 
Trazendo-se para o momento presente através da respiração e do corpo

1. Encontre uma posição sentada, em que a coluna possa sustentá-lo, com as costas direitas, mas não de forma contraída, com os ombros relaxados, cabeça e pescoço equilibrados e queixo ligeiramente metido para dentro.

2. Traga a sua atenção para os movimentos da respiração no corpo por alguns minutos, até que se sinta suficientemente assente. Em seguida, expanda a sua atenção para tomar o corpo como um todo, como se todo o corpo estivesse a respirar, ajudando-o a estar ciente de todas as sensações na paisagem interior do corpo.

3. Dedique um momento a praticar a consciência da respiração e do corpo, desta forma, lembrando-se que na prática que se segue  pode sempre voltar para a respiração e para o corpo para ancorar-se ao momento presente se a sua mente estiver muito agitada.

Sons

4. Agora, quando estiver pronto, deixe o foco da sua atenção sair da consciência das suas sensações físicas para a audição - aberta aos sons que possam surgir.

5. Não há necessidade de ir à procura de sons ou estar atento a sons em particular.  Em vez disso, o melhor que puder, simplesmente permaneça aberto, de modo a estar receptivo à consciência dos sons que o rodeiam à medida que vão surgindo - soando próximos, à sua frente,  atrás de si ou ao seu lado, acima ou abaixo. Desta forma, está a abrir-se a todo o espaço sonoro em seu redor: a "paisagem sonora". Talvez perceba como os sons óbvios podem facilmente ocultar os  mais subtis; notando um espaço entre os sons em momentos de relativa calma.

6. O melhor que puder, esteja ciente dos sons simplesmente como sons, como sensações cruas. Observe a tendência que todos temos de rotular um som assim que este é escutado (carro, comboio, voz, ar condicionado, rádio), e veja se é possível simplesmente perceber essa rotulagem e de seguida reorientar a sua consciência para além do rótulo, para as sensações brutas dos próprios sons (incluindo os sons dentro de sons).

7. Pode achar que está a pensar sobre os sons. Veja se é possível reconectar-se com a consciência directa das suas qualidades sensoriais (padrões de afinação, timbre, intensidade e duração), em vez dos seus significados, implicações ou histórias sobre eles.

8. Sempre que notar que a sua consciência não está focada nos sons, reconheça suavemente esta mudança de foco para , em seguida, sintonizar a atenção de volta aos sons - à forma como eles surgem e desaparecem a cada momento.

9.  Agora, depois de ter dedicado alguns momentos à consciência dos sons, deixe-os ir, largando-os suavemente.

 Pensamentos

10. Agora, mude o seu foco atencional de modo a que os seus pensamentos estejam no centro da sua consciência - veja-os, da melhor maneira possível, como eventos na mente.

11. Da mesma forma que fez com os sons, onde foi percebendo o seu surgimento, permanência e desaparecimento, da melhor maneira possível, observe os pensamentos que surgem na mente, percebendo quando surgem, vendo como permanecem no espaço da mente (como nuvens que se deslocam através do céu da mente). Eventualmente, veja se  pode detectar o momento em que  se dissolvem.

12. Não há necessidade de tentar fazer com que os pensamentos surjam ou desapareçam. Da mesma forma que se relacionou com o surgimento e desaparecimento dos sons, deixe os pensamentos vir e ir por conta própria.

13. Assim como as nuvens que se deslocam através de um vasto céu são por vezes escuras e tempestuosas e outras leves e macias, do mesmo modo os pensamentos podem assumir diferentes formas. Às vezes as nuvens enchem o céu inteiro. Às vezes, limpam completamente, deixando o céu sem nuvens.

14. Pode também prestar atenção aos pensamentos na mente, da mesma forma que faria se os pensamentos fossem projectados na tela no cinema -  senta-se, observa, esperando por um pensamento ou imagem surgir. Quando isso acontecer, tenha consciência deles, desde que surgem  'na tela', e então deixe-os ir, assim que se tornarem mais distante. Observe quando é atraído para o filme, saltando para dentro da tela. Quando se tornar ciente disso, congratule-se por esta percepção e, em seguida, retorne para o seu lugar e espere pacientemente que a próxima sequência de pensamentos surja, como certamente o fará.

15. Se algum pensamento trouxer consigo uma intensa carga emocional, agradável ou desagradável, o melhor que puder, observe estas emoções e a sua intensidade e deixe que os pensamentos sejam o que são, não tentando mudá-los ou reagir-lhes.

16. Lembre-se que se em algum momento sentir que sua mente perdeu o foco e ficou dispersa ou se continua a ser repetidamente arrastado para uma história criada pelo seu pensamento, pode voltar para a respiração e para a sensação do corpo como um todo e usar esse foco para ancorar e estabilizar a sua consciência de volta para o momento presente.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ataques de Pânico


Um ataque de pânico é a aparição repentina de uma avassaladora sensação de ansiedade e medo atingindo o seu pico ao fim de 10 minutos e atenuando em 20 ou 30 minutos.
Os sintomas mais referidos são:
Ritmo cardíaco acelerado
Sensação de desmaio
Dificuldade em respirar ou hiperventilação
Sensação de estar a morrer
Medo intenso de enlouquecer ou de perder o controlo
Dor ou desconforto na zona do peito
Tremores
Sensação de despersonalização (como se o corpo não lhe pertencesse) ou de desrealização.
Náuseas
Dormência ou formigueiro nas mãos, braços, pernas ou pés
Sensação de frio ou calor intenso
Se não forem alvo de intervenção, podem originar uma Perturbação de Pânico e/ou outros problemas como o isolamento social. Quanto mais rapidamente procurar ajuda, melhor o prognóstico de intervenção e recuperação.
Como acontecem os ataques de pânico
A verdade e que todos temos uma resposta física ao stress.
Podemos sentir-nos ansiosos quando surge um problema no nosso local de trabalho, quando temos um exame na escola ou uma decisão importante a tomar. Porem, para alguém que tem ataques de pânico, estas pressões externas despoletam reações físicas intensas, como se estivessem a ser atacadas por um leão. A adrenalina dispara e o corpo e a mente têm uma resposta de fuga ou ataque face ao perigo percebido.
Contudo os ataques de pânico são duplamente assustadores dado que não existe um perigo real que os provoque e, assim sendo, podem acontecer a qualquer momento e em qualquer situação.
Ao longo do tempo, muitas das pessoas que sofrem de ataques de pânico revelam ter desenvolvido “medo de ter medo” de ter outro ataque de pânico. Tal pode inibir a normal realização das suas retinas e diminuir seriamente a sua qualidade de vida. No extremo, algumas pessoas recusam-se a sair de suas casas ou a regressar a locais onde já tiveram um episódio de pânico.
Os ataques de pânico podem ocorrer apenas uma vez, no entanto, muitas pessoas relatam repetidos episódios. Os ataques de pânico recorrentes muitas vezes são accionados por situações específicas como atravessar uma ponte, falar em público ou ficar sozinho/a inesperadamente – especialmente se essa situação já provocou anteriormente um ataque de pânico. As características de uma situação indutora de pânico são situações em que nos sentimos em perigo e somos incapazes de sair dela.
É comum o aparecimento de ataques de pânico em etapas de mudança na vida das pessoas como mudar de escola, entrar no mercado de trabalho, mudar de país, casar ou ter filhos. Situações geradoras de muita ansiedade como a morte de uma pessoa próxima, o aparecimento de uma doença grave, divórcio ou perda de emprego podem activar um ataque de pânico.
O Verão pode ainda ser uma estação predominantemente relacionada com os ataques de pânico, como mostram vários estudos, uma vez que as temperaturas elevadas podem despoletar vários dos sintomas a eles associados (como o aumento do ritmo cardíaco e a sensação de falta de ar).
Alguns catalisadores dos Ataques de Pânico:
Ansiedade Antecipatória: A sua mente está focada num evento passado traumático e o seu corpo responde como se esse evento estivesse a acontecer neste momento.
Visualização auto-destrutiva: Pode temer perder o controlo da situação presente. Interpreta a situação como potencialmente perigosa e o seu corpo segrega adrenalina preparando-se para lidar com o perigo.
O seu corpo em alerta. O cérebro envia uma mensagem ao seu corpo para protege-lo face ao perigo percebido. Assim, o seu ritmo cardíaco aumenta para que o sangue circule mais rapidamente até aos seus órgãos vitais, a respiração acelera para oxigenar o sangue que circula e os seus músculos tensionam-se para que possa mover-se mais rapidamente.
A sua mente fica presa aos pensamentos catastróficos. Em vez de reagir no sentido de resolver o problema percepcionado, fica preso no perigo percebido e incapaz de deixar o medo ir.
A sua respiração acelera. Durante um ataque de pânico, a sua respiração acelera para que possa ter mais oxigénio disponível para o sangue. Neste processo, os seus pulmões exalam mais dióxido de carbono do que o produzido pelas suas células, diminuindo os níveis de dióxido de carbono no sangue e no cérebro.
O que pode fazer?
Aprender sobre o pânico – Recolher informação sobre este tipo de condição ajudar bastante a relacionar-se com a ansiedade e o medo.
Evitar cigarros e cafeína – Estes dois produtos podem provocar ataques de pânico em pessoas susceptíveis.
Aprender a controlar a respiração – A hiperventilação que sente durante um ataque de pânico promove muitas das sensações que o acompanham (tonturas, aperto/dor no peito). Uma forma de controlar esses sintomas é através da respiração, controlando a entrada e saída de ar e equilibrando os níveis de oxigénio e dióxido de carbono no corpo.
Praticar técnicas de relaxamento – Se tiver experiência de prática de yoga, meditação ou técnicas de relaxamento muscular progressivo poderá utilizá-la para fornecer ao corpo a indicação para relaxar em vez de entrar em ansiedade. Irá sentir não só um aumento de relaxamento, como sensações de bem-estar e de plenitude. Encontre espaço para estas práticas diariamente
Se nada disto melhorar os ataques de pânico: procure um psicólogo!
Existem várias técnicas/abordagens eficazes na intervenção com ataques de pânico, nomeadamente:
Terapia Cognitivo-Comportamental – Foca-se nos seus padrões de pensamento e naqueles que poderão estar a contribuir para a ansiedade, promovendo formas mais adaptativas de pensar/agir quando está a ter um ataque de pânico ou em situações de ansiedade intensa. Normalmente são identificadas as situações ou comportamentos que iniciam os seus ataques de pânico (acontecimento gatilho) e os comportamentos que os mantêm. Esta abordagem ajuda a olhar o medo e a ansiedade de uma forma mais realista e menos assustadora.
Terapia de exposição para ataques de pânico – Nesta abordagem (que pode e deve ser complementada com a anterior), será exposto/a às condições e sensações físicas do ataque de pânico num ambiente controlado e seguro para que seja possível aprender estratégias para lidar com o ataque de pânico. Pode-lhe ser pedido que respire muito depressa para simular a hiperventilação, que abane rapidamente a cabeça para simular a sensação de tontura e permitir que se habitue a lidar com as sensações físicas do ataque de pânico. Imaginar determinados locais ou acontecimentos potenciadores de um ataque de pânico pode também ser uma das formas de trabalhar a forma como vai lidando com ele, até ser efectivamente levado a esses locais, no final da terapia de exposição e com todas as estratégias aprendidas entretanto.

Dessensibilização e Reprocessamento através do Movimento Ocular (EMDR) Através desta abordagem são atingidos resultados rápidos tanto sobre os episódios potencialmente traumáticos vividos como nos “gatilhos” que promovem os ataques de pânico.

Catarina Satúrio

Depressão

DEPRESSÃO

Chorar

O que é?
Segundo António Coimbra de Matos “A depressão é a ausência de esperança, com retirada para o mundo da memória. A antecipação de um porvir estimulante é aniquilada pela vivência da perda sentida como irreparável e insubstituível. Nada ou pouco interessa e dá prazer no presente real e pouco ou nada é imaginado como bom ou apetecível no amanhã.”
Em termos globais, a depressão é uma Perturbação do Humor caracterizada por uma tristeza desadaptada, intensa, prolongada e perturbadora, ausência de prazer e interesse, pessimismo, isolamento, ruminação, falta de energia, insónia ou irritabilidade que podem escalar até doenças psicossomáticas, sintomas psicóticos e impulsos suicidas durante semanas, meses ou anos

Tipologia

  • Depressão Major
Caracteriza-se pela presença de 5 ou mais sintomas durante 2 ou mais semanas:
- Sintomas psicológicos: tristeza profunda, desespero, perda de prazer no dia-a-dia (anedonia), culpa, falta de valor próprio, ruminação, pensamentos recorrentes de morte ou suicídio e dificuldades de concentração
- Sintomas físicos: variações de peso e apetite, falta de energia, lentificação ou agitação motora, perturbações do sono (insónia inicial ou terminal, hipersónia)


Tem vários subtipos:
1) Psicótica: com delírios normalmente de perseguição, prática de pecados ou crimes imperdoáveis, doenças incuráveis ou vergonhosas. Poderá existir também alucinações auditivas (ouvir vozes acusatórias) ou visuais
2) Catatónica: Lentificação psicomotora severa ou excessiva, desligamento e, em alguns clientes, expressões faciais bizarras, imitação do discurso (ecolalia) ou do movimento (ecopraxia)
3) Melancólica: Perda de prazer em quase todas as actividades, incapacidade em responder a estímulos prazerosos, expressão emocional estática, culpa intensa, acordar madrugador, lentificação ou agitação psicomotora e perda de peso ou anorexia
4) Ansiosa: Sentimentos de tensão e inquietude, dificuldade de concentração devido a preocupação, medo que algo horrível aconteça e de perder o autocontrolo
5) Pós-parto: Quando os sintomas surgem durante a gravidez ou nas 4 semanas após o parto. É muitas vezes acompanhada de ansiedade grave e até ataques de pânico.
6) Sazonal: Quando os sintomas surgem numa altura particular do ano (normalmente Outono ou Inverno) com total remissão noutra. Esta relação temporal deverá ser exibida pelo menos durante 2 anos.
7) Atípica: Humor construtivo perante estímulos positivos mas sensibilidade à rejeição resultando em intensos estados depressivos reativos a situações sentidas como de crítica ou rejeição. Aumento de apetite e de peso, hipersónia. Os sintomas têm tendência a aumentar à medida que o dia decorre
8) Induzida por substâncias ou medicamentos
9) Devido a outras condições médicas


  • Distimia
Quadro com sintomas depressivos de baixa intensidade que persistem 2 ou mais anos.
Tipicamente inicia-se durante a adolescência e tem um percurso discreto durante muitos anos ou décadas
A distimia pode ser acompanhada de forma irregular por episódios de depressão major
As pessoas com distimia são, normalmente, “sombrias”, pessimistas, com pouco sentido de humor, passivas, letárgicas, introvertidas, hipercríticos de si próprios e dos outros e reclamam facilmente.


Comorbilidade
Indivíduos com estados depressivos crónicos, quer seja distimia ou depressão major, têm maior probabilidade de ter perturbações de ansiedade (Ataques de pânico, ansiedade generalizada), perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação bipolar, perturbação pós-stress traumático, perturbações alimentares e de auto-imagem, abuso de substâncias ou perturbações de personalidade (Bordeline, Evitante, Dependente, Narcísica, Histriónica).

Factores de Risco
Existem factores de risco biológicos e ambientais:
  • Factores biológicos
  1. Neuroquímica: baixa Dopamina e Serotonina e desregulação na Adrenalina e Noradrenalina
  2. Hormonal: alterações ao nível do Estrogénio (estimula produção da serotonina); Testosterona (líbido, vitalidade física e psicológica); Progesterona (regula estrogénio); Cortisol (ligada ao stress) e Hipotiroidismo (reduzidas T3 e T4)
  3. Doenças físicas: Epilepsia; AVC; Doença de Parkinson; Esclerose múltipla; Doença cerebral degenerativa entre outras.
  4. Genética: pode explicar até metade da etiologia, mais comum em familiares em 1º grau de clientes depressivos, bipolares e em gémeos verdadeiros
  • Factores ambientais:
  1. Trauma
  2. Abuso físico ou psicológico
  3. Perdas de vários tipos (relacionais, profissionais, etc.)
  4. Mudanças repentinas no contexto de vida
  5. Consumo de substâncias
  6. Isolamento social
  7. Perfecionismo
  8. Baixa auto-estima


Prevalência
A depressão afecta todas as faixas etárias, continuando a ter maior prevalência na idade adulta e é mais frequente em mulheres (2 para 1).
Antigamente, a idade média do primeiro episódio depressivo major situava-se entre os 40 e os 50 anos. Hoje em dia, situa-se na faixa dos 20.
Segundo a European Alliance Against Depression (EAAD), Portugal é o país da Europa com maior taxa de depressão e o segundo maior do mundo (1 em cada 4) e atrás dos USA.

Índice de Mortalidade
Dois terços das pessoas que se suicidam sofrem de depressão na altura da sua morte
Portugal é o terceiro país europeu onde o suicídio mais aumentou nos últimos quinze anos (5 por dia)
Vários estudos afirmam que em 2020, a depressão será a 2ª causa de morte logo a seguir das patologias cardíacas.

Tratamento

A depressão tem tratamento.

Antes de procurar ajuda procure adoptar um estilo de vida anti-depressivo:
- Dieta equilibrada, com alimentos ricos em vitaminas do complexo B (cereais, verduras, feijão, frango e ovos), C (citrinos e vegetais) e Ômega 3 (peixes gordos)
- Exposição solar (vitamina D)
- Dormir 8 horas por dia
- 30 minutos de actividade física diária

Não tenha vergonha de pedir ajuda. A depressão é um problema internacional de saúde pública que pode matar.

Procure ajuda psicoterapêutica. Está cientificamente provada a sua eficácia, existindo várias abordagens possíveis (Cognitivo-Comportamental, Terapia Focada nas Emoções, EMDR, terapia existencial, Mindfulness, entre outras). Como cada caso é um caso, na Psinove privilegiamos um modelo de intervenção integrativo, usando várias abordagens de forma responsiva a cada indivíduo.

Em casos mais graves articulamos com psiquiatria.


Referências

American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5thed): DSM-V. Washington: Author

Coimbra de Matos, A. (2001). A Depressão. Lisboa: Climepsi.



Catarina Satúrio
Catarina Barra Vaz


Transtorno Bipolar

DOENÇA BIPOLAR
Perturbação do humor


O que é?
A Doença Bipolar, anteriormente denominada de doença maníaco-depressiva é uma Perturbação do Humor que implica a presença ou história de Episódios Maníacos ou Hipomaníacos, habitualmente concomitantes com a existência de Episódios Depressivos Major (DSM-V, 2013).


Tipologia
Existem três tipos de doença bipolar:
Bipolar I – caracteriza-se pela presença de uma ou mais episódios maníacos, que pode ser precedido ou seguido de episódios hipomaníacos ou depressivos major.
Bipolar II – caracteriza-se pela presença de um episódio de depressão major, precedido ou seguido por um episódio hipomaníaco
Ciclotimia Perturbação do humor crónica e instável que engloba períodos de sintomas hipomaníacos e depressivos que não são em número, intensidade, duração e globalidade suficientes para se enquadrarem num Episódio Maníaco e Episódio Depressivo Major, respectivamente. Para que a Ciclotimia possa ser diagnosticada, é necessário que durante um período de dois anos (um ano para crianças ou adolescentes), a pessoa não esteja isenta dos sintomas por mais de dois meses seguidos e que nos 2 primeiros anos da perturbação, não ocorra nenhum Episódio Depressivo Major ou Maníaco.


Sintomatologia
  • Episódio Maníaco
Estado de humor expansivo, elevado, eufórico ou irritável com aumento de actividade ou energia durante pelo menos uma semana durante o qual ocorrem 3 ou mais dos seguintes sintomas:
- Aumento da auto-estima, sentimentos de grandiosidade
- Diminuição da necessidade de dormir
- Maior necessidade de falar
- Fuga de ideias ou pensamento acelerado
- Distractibilidade
- Grande dedicação a tarefas orientadas por objectivos ou agitação psicomotora
- Envolvimento excessivo em actividades de risco em actividade de prazer, nomeadamente despesas excessivas e sexo
- Perda da noção de realidade, delírios ou alucinações auditivas.


  • Episódio Hipomaníaco
Apenas difere do episódio maníaco na sua duração: mínimo de 4 dias consecutivos.


  • Episódio Depressivo Major
Estado de humor depressivo durante o mínimo de duas semanas acompanhado por 4 ou mais dos seguintes sintomas:
- Diminuição do interesse ou prazer na maior parte das actividades
- Diminuição ou aumento de peso ou apetite, sem estar em dieta alimentar
- Insónia ou hipersónia quase todos os dias
- Agitação ou lentificação psicomotora
- Fadiga ou perda de energia
- Sentimentos de inutilidade ou de culpa excessiva
- Dificuldade de concentração
- Ideação suicida


Comorbilidade
Doença Bipolar I - Perturbação de Pânico, Fobia Social, Perturbação por Hiperactividade/Défice da Atenção e Perturbações Relacionadas com Substâncias.
Doença Bipolar II - Perturbação de Pânico, Fobia Social, Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações Alimentares.
Ciclotimia - Perturbações Relacionadas com Substâncias e Perturbações do Sono.


Factores de Risco
Os factores biológicos têm maior peso na ocorrência da Doença Bipolar.
Um desequilíbrio nos níveis de um ou mais neurotransmissores (noradrenalina, serotonina e dopamina) pode conduzir ao aparecimento da doença bipolar.
Vários estudos demonstram predisposição genética para a doença bipolar sendo este o maior factor de risco. A magnitude do risco diminui com os graus de parentesco: pais, irmãos e avós.
Contudo, factores ambientais como acontecimentos de vida stressantes (morte de uma familiar, desemprego, etc) parecem ter um papel importante no desencadear da doença.


Prevalência e evolução
A Doença Bipolar afecta cerca de 1.5% da população (Jones, 2004) e vários estudos epidemiológicos indicam que a Doença Bipolar ocorre igualmente em homens e mulheres.
Quanto à idade média de ocorrência: 18 anos na Doença Bipolar I, 25 anos na Doença Bipolar II e adolescência na Ciclotimia (nesta última há um risco variável entre 15% a 50% de que a pessoa desenvolva uma Doença Bipolar I ou II)


Tratamento
Sabia que muitos famosos nossos contemporâneos como a actriz Catherine Zeta-Jones, o actor Jim Carey a cantora Rita Lee e o bilionário Ted Turner têm doença bipolar e vivem de forma funcional com a mesma?
A Doença Bipolar é uma condição crónica. Não há nenhum tratamento que a cure por completo mas é possível controlá-la, diminuindo o número de recaídas.
É fundamental o tratamento farmacológico, normalmente estabilizadores de humor como o Lítio, prescritos por médico psiquiatra.
Contudo, segundo Jones (2004) 1/3 dos pacientes continua a apresentar recaídas, apesar do tratamento preventivo com lítio elo que o apoio psicológico, individual e familiar é essencial na adaptação à doença.
A Psicoeducação pode fornecer às famílias, cuidadores e aos doentes informações sobre a doença e respectivo tratamento, tendo como objectivo a aceitação da doença e tratamento. A Psicoeducação adquire igualmente importância na adesão à medicação, o evitamento do abuso de substâncias e a identificação de sintomas de recaída.
A terapia cognitivo-comportamental em doentes com Doença Bipolar reduz o número de recaídas nos episódios maníacos, nos episódios totais e nos episódios hipomaníacos bem como uma diminuição do número de episódios de depressão, mania e hipomania.
A terapia familiar (TF), pretende melhorar o conhecimento sobre a doença, realçar o funcionamento global do paciente, assim como focar a forma de lidar com o stress, verificando-se com esta terapia um aumento da adesão à medicação. O método utilizado pela TF envolve fases de avaliação, educação sobre a doença, aperfeiçoamento das capacidades de comunicação bem como da capacidade de resolução de problemas, com a família.


Referências
American Psychiatric Association (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (5thed): DSM-V. Washington: Author
Jones, S. (2004). Psychotherapy of bipolar disorder: a review. Journal of Affective Disorders, 80, 101-114.
Catarina Satúrio

Catarina Barra Vaz

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Alma Gémea

AmorSerá que a Alma Gémea existe? Uma entrevista no Portal Inspire Saúde.

Indisciplina na Escola



Indisciplina na Escola como agir? Um artigo a ler (Basta clicar no texto a azul)

Esclerose Múltipla


Doenças degenerativas
Esta é uma doença inflamatória neuro degenerativa crónica e imprevisível. Os danos ao nível do Sistema Nervoso podem ser extensos e conduzir a incapacidades físicas e cognitivas. A incidência mundial da Esclerose Múltipla tem vindo a aumentar, estimando-se que cerc de 3,6/100,000 mulheres e 2,0/100,000 homens sofram desta doença.

Dados oriundos dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e China realçam a existência de comorbilidade com doenças do foro psiquiátrico. Diferentes estudos demonstram que existe uma prevalência de 16,5% e de 46% de Ansiedade e Depressão, respectivamente, nos doentes com Esclerose Múltipla. Os níveis de qualidade de vida nestes doentes estão na sua maioria diminuídos, o que poderá ser agravado não apenas pela incerteza na evolução da doença como também pela depressão. A existência de psicopatologia associada à Esclerose Múltipla apresenta uma relação directa com uma diminuição da adesão ao tratamento, aumento dos sintomas somáticos, e redução das competências sociais bem como das capacidades funcionais.

Tal como noutras doenças crónicas, a auto-eficácia é de extrema importância para os doentes com Esclerose Múltipla. O aumento da sensação de controlo e de aceitação podem diminuir o impacto físico e psicológico de sofrer de uma doença crónica e contribuir para melhorias clinicas tais como diminuição da fadiga.

As investigações mais recentes apontam para que a diminuição do stress seja um meio para gerir e reduzir a actividade da Esclerose Múltipla. De facto, a Terapia Cognitivo Comportamental já provou a sua eficácia, reduzindo os níveis de impregnação de gandolínio (que indicam as lesões activas) visíveis com recurso a Ressonâncias Magnéticas, durante o período em que decorre a terapia. Contudo, este efeito não é mantido após o término da terapia. As terapias baseadas nas técnicas de Mindfulness, porém, operam de forma diferente dado o forte enfase da prática diária individual e têm um efeito prolongado no tempo.

De facto, estudos levados a cabo na Suíça demonstraram que o treino de 8 semanas de Mindfulness tem resultados na redução da ansiedade, depressão, fadiga e dor bem como nas competências psicossociais, resultados esses que se continuaram a verificar após 6 meses do término do estudo e do treino de 8 semanas. No inicio da investigação, 65% dos participantes tinham níveis elevados de depressão, fadiga ou ansiedade, número esse que reduziu para 1/3 após a frequência do treino semanal de 2h30, complementado com a pratica diária individual de 40 minutos. O objectivo deste programa MBSR (Mindful-Based Stress Reduction) é o de criar uma consciência sem julgamento do que acontece no momento presente.

"MS quality of life, depression, and fatigue improve after mindfulness training: A randomized trial." P. Grossman, L. Kappos, H. Gensicke, M. D'Souza, D.C. Mohr, I.K. Penner, and C. Steiner. Neurology, Volume 75, Issue 13 : pp 1141-1149, published 28 September 2010.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Comer com consciência

Mindful eating

As práticas de mindfulness ou de atenção plena podem e devem ser alargadas a todas as áreas do quotidiano que possamos imaginar.
Ser mindful, estar atento e consciente ao que acontece no Agora, não termina no fim de uma prática de 45 minutos de body scan ou de atenção plena da respiração. A atenção, o estar presente aplica-se a coisas tão simples como uma caminhada ou…comer.
Sim, comer, porque mesmo quando ouvimos alguém dizer que adora comer, essa pessoa não está necessariamente a referir-se a apreciar o sabor do alimento, a sua textura e o seu cheiro. A maioria de nós refere-se a comer frutos secos de uma forma quase compulsiva ou um iogurte em duas colheres de sopa. De pé.. Enquanto damos um olhinho no email que acabou de chegar.
A falha na maioria das dietas assenta no negarmo-nos determinados alimentos. A nossa rejeição esta tão presente como o desejo de comer aquele alimento a que nos negámos.
As práticas meditativas de atenção plena da alimentação podem ajudar a promover uma relação mais saudável com a comida e com o acto de comer. As práticas de mindful eating podem inclusivamente ajudar nos casos de “comer compulsivamente”.
Entre outras, comer com consciência permite-nos perceber quando temos realmente fome e quando estamos saciados, podendo assim decidir acertadamente quando ir comer e quando parar de comer.
Observe-se enquanto come. De cada garfada com intenção e siga o percurso do alimento com tudo o que este pode proporcionar-lhe.
Observe os seus sentimentos e sentidos enquanto come, não depois.
Comer é de facto uma experiência bastante completa e complexa. Envolve os 5 sentidos – vemos, cheiramos, saboreamos, tocamos e ate podemos ouvir-nos a mastigar.
Por isso podemos praticar uma meditação que contemple todos estes sentidos enquanto estamos a comer.
Como comer de forma mindful?
Comece por escolher apenas uma refeição por dia a qual dará a sua atenção completa.
Foque-se no que está a comer. Desligue o computador, ponha de lado o livro, apague a televisão ou qualquer elemento que possa ser distrativo daquele momento em que se vai dedicar apenas a saborear o prato que está à sua frente.
Coma à mesa. Ponha o seu lugar, o individual, o prato e não descure a aparência dessa refeição que preparou para si.
Aprecie e saboreie cada garfada. Sinta o sabor dos alimentos e a forma como se misturam e se alteram enquanto os mastiga.
Faça uma pausa entre cada garfada.
E se possível, se estiver com outros à mesa, partilhe a experiência de comer com consciência.Afinal, comer pode ser um prazer.
Pode notar que no fim desta refeição consciente talvez tenha comido menos do que é habitual. A sua digestão pode ser melhorada já que mastigou e saboreou cada alimento. E talvez tenha apreciado verdadeiramente a sua refeição.

Catarina Satúrio